sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Come on baby, light my fire!

Muitos foram os temas que me ocorreram para iniciar esta jornada, que cá designarei como minhas pazes com a escrita. Há muito não escrevo e esta crescente abstinência tem me incomodado bastante, uma vez que tomo o ato de escrever como continuação de um denso prelúdio caracterizado por um pensar mais elaborado, menos pragmático.

"Penso, logo existo." (René Descartes)


Dentre todos os temas cogitados, nenhum me chamou mais a atenção do que a própria escassez do pensamento. O ser humano está cada vez mais abdicando do que era justamente seu diferencial perante os outros animais, e agindo quase que somente por instinto. Vestígios de racionalidade ainda são encontrados em livros didáticos que retratam uma história de mil novecentos e antigamente. Mas e hoje? O que temos de deveras significativo para registrar? Onde então os grandes líderes que devemos seguir? Qual será o nosso legado para as gerações posteriores?


Pego-me pensando na frustração que nossos heróis revolucionários sentiriam se soubessem que deram a vida por uma democracia que na verdade está mais engessada do que nas próprias ditaduras. Onde notícia ruim alguma fere mais do que o fato de Ronaldo e Adriano não jogarem as próximas partidas pelos seus clubes. Onde sediar Copa do Mundo e Olimpíadas é a dissolução de todos os problemas econômicos e sociais.


Pobres objetivos constitucionais, que pregam a garantia de um desenvolvimento nacional, com a erradicação da pobreza e da marginalização, além da redução das desigualdades sociais. Mal informados, não carregam a noção de que é impossível desenvolvimento sem pensamento. À deriva, só lhes resta ter como real o irreal, tal como Chuck Noland ("Náufrago") e seu melhor amigo, uma bola de vôlei Wilson.


Fugindo um pouco do contexto social e permeando a individualidade dos Homens, podemos notar que um pedido de desculpas nunca foi tão corriqueiro como agora. Esta banalidade, obviamente, se deve ao fato de encararmos o ato de pensar como "demanda de esforço desnecessária"(DED), já que podemos agir livremente sem ela e, tal como atirando a esmo, contar com a sorte de que o resultado do evento não prejudique ninguém. Caso prejudique, cabe ali um mero pedido de desculpas, e, também, uma grande possibilidade de danos semelhantes ocorrerem.

Somos absolutamente capazes de estudar possíveis conseqüências antes de tomarmos qualquer atitude relevante que interfira num meio complexo. Usar o nobre pedido de perdão como se fosse um "olá" só faz cair em desuso a preocupação com o outro, fomentando um egoísmo cego e tolo que, de forma oculta, carrega consigo um "efeito boomerang". Entretanto, geralmente só se cria este tipo de consciência quando se vivencia de fato o lugar que era ocupado por alguém.


Pois é, senhores. Estou cada vez mais certa de que o que financia este sistema medíocre não é em si o tráfico, a mulher-fruta, o pedinte de desculpas ou o brilho do Ronaldo no Corinthians, mas, sim, a falta do pensar. A mudança é um processo que só se propaga quando iniciado a nível "intra". De nada adianta apararmos os galhos se não regamos constantemente a raiz.


Fica aqui um pedido: não assoprem a vela da foto acima ao sairem.

"Eu ponho fé é na fé da moçada, que não foge da fera e enfrenta o leão." (Gonzaguinha)


Ana C. P. dos Santos

Um comentário:

  1. Noooofa! Não sabia que minha amiga vendedora de Avon e contadora de moedinhas escrevia TÃO bem assim.
    Tá, confesso que eu ia assoprar a velinha..comfaasss? hoho
    Queria comentar de acordo com o contexto do post, mas você fez um excelente uso das palavras...Então, digo: Escreva mais..e sempre e sempre..Bêbada, ou sóbria...oi?

    ResponderExcluir